PASSAGEM
Suave, piano.
Corre por aí
Porque a rua, ela
Não vai contigo.
Só agora decidi
O que ainda não escolhi,
Porque a rua, essa
Não vem comigo.
Estou contente
Por aqui,
Tua num quarto crescente.
Vem tu,
Só tu, somente
Porque a Lua não brilha sem ti.
9 de junho de 2025
REBENTO
De todas as saudades
Sejam elas, ou não
Verdade.
Fico bem aqui gravado
Com todo este,
Extraordinário, pois
Cimento.
Não é raiva,
É conhecimento.
Se te deixo aqui
Por um momento só,
Ele é teu,
Fico em pó.
Se te deixo assim
Para trás;
Sou assim,
Rebento.
10 de maio de 2025
PARA QUEM
Para manter a luz da chama acesa,
Não por saber o que a cama trouxe à mesa
Ou se aquela vem e pestaneja,
Mas por manter a vela acesa
Numa treva longa e densa.
Pela luz na imensidão
Da eterna escuridão.
Por manter a chama acesa
Assim vem a luz à mesa.
15 de março de 2025
ROOMBA
A alvenaria chegou tarde
Já eu rompia;
Não sei que segredo te fazia:
Se alegria
Se jazia.
O caminho que eu rumava
Era longe desta estrada;
Uma parede que eu erguia
Ou um tombo que daria,
Com estrondo eu tomava
Uma rede desfazia
Sem saber se já jazia.
O regozijo era tal
Fosse mesmo chegar bem,
Ou mal.
Como é satisfação
Não entender meu coração.
10 de janeiro de 2025
ENCONTRO
Eu sou um
Como dois,
Talvez três
Mais nenhum.
Ranhura por onde entrar
Ela sela
Reencontro com o ar,
Venha o quarto para amar.
Raízes de encontrar
Neste nosso velejar
Ou um tanto bafejar.
Antes mesmo de virar
Rezam elas, ali pois...
Sou tão vela como sois.
19 de outubro de 2024
MENTE
Vem
Gentilmente,
Mente
Não sente.
Lento
Sem relento,
Num momento
Ardente.
Fogem mais cantos do mundo
Por caminhos, também
Profundos.
Nem em sombras estou aqui
Escrevo isto para ti,
Eu fugi e não morri.
5 de outubro de 2024
SEM AMOR
Tu…
Esse teu olhar
Move florestas,
Rompe com as brechas
Desta minha aresta;
Que sou eu
Longe do teu eu.
Esse teu ardor
Chamo eu de amor
Resolvido em cor,
Deixaste-me assim…
Sem dor.
23 de agosto de 2024
CÉUS INFINITOS
Naturalmente emotiva
Assim é a comitiva,
Tal foi ela recebida
De forma tão ressequida...
Essa gente muito atroz
Não condiz com a nossa voz,
Com um certo bem-querer
Mais que ser, além morrer!
Voar por céus infinitos,
Engendrar horizontes longínquos;
Encontrar neste mundo perdido,
Escrever algo - que bonito!
Viajar é consistente
Venha gema reluzente,
Com um travo dessa gente
Recusar um ser dormente!
18 de agosto de 2024
FAROL
Já vi eu este cenário
De pétalas rosadas
Numa cama com espinhos,
Parece ele algum caminho.
Na verdade é só vazio,
Corre lento, como um rio
Coberto deste fastio;
À procura de uma foz
Onde fazer desaguar,
Derramar
Este mar.
Um farol
Põe o teu sol
Longe desta incerteza,
De viver assim à mesa.
Nem uma ponta de sal
Numa margem desse tal,
Faz da dúvida, a gentileza
De correr com este mal.
Não há luz que ponha em mim
Seja noite, seja sol
Como a lente de um farol.
10 de agosto de 2024
PERDER
Escrever
Não é tanto um doer,
Custa menos
Do que ler,
Ou mesmo ser…
Um intruso
Neste círculo ridículo
Feito de forma consciente
Por parecer mais outro seno.
Esse teu meu responder
Leva pois assim a crer,
Que a vontade
De ter
É tão certa como ser.
De querer e não poder.
7 de agosto de 2024
ADIANTE
Retrocesso é pensar
Que realmente existe
Um pensar, este
Que nos possa dar
Um conforto, ou um lar.
Num rolar de exatidão
Sofre a roda em precisão,
É apenas um cheirar
Do que não pode parar.
Adiante, mais à frente
Alguns estão que dizem gente
Venham menos de repente.
Somos nós, tão sós; somente.
Do futuro vem um burro
Esbarra bem ele neste muro.
Marchar
De rompante,
Adiante!
3 de agosto de 2024
FOMOS GENTE
Hoje acordei
Um tanto ao quanto,
De certo modo poderei até...
Dizer contente.
Chamaram-me demente
Como mais um indigente
Contentado com o presente!
Revoltados, enjeitados!
Foram, certamente
Iludidos em vocábulos
De palavras refratárias.
Hoje acordei feliz,
Com a alegria e a certeza
De que um dia fomos gente.
29 de julho de 2024